Um pouco de história da ciência: Galileu e o Plano Inclinado
Durante os
estudos realizados por Galileu a respeito da Queda livre, o plano inclinado
teve um papel imprescindível. Em seu livro Duas
Novas Ciências, o autor traz uma discussão entre seus personagens abordando
o problema do plano inclinado e demonstra matematicamente que o espaço
percorrido por um corpo é proporcional ao quadrado do tempo (GALILEU,
1988).
Para
compreender melhor o teorema demonstrado por Galileu, vamos analisar sua
definição de movimento acelerado, na qual considera que quando um corpo parte
do repouso adquire em tempos iguais momentos iguais de velocidade (GALILEU,
1988), Equação 1.
Considerando
então um corpo em queda livre, temos que o espaço percorrido por ele em
qualquer instante é igual ao quadrado dos tempos, em termos algébricos:
Para Galilei,
(1988, p.167): “Os graus de velocidade alcançados por um mesmo móvel em planos
diferentemente inclinados são iguais quando as alturas desses planos também são
iguais”. Para uma melhor compreensão vamos analisar a Figura 1 extraída da obra de Galilei, que mostra
três possíveis trajetórias para um corpo partindo do ponto C que ao chegar ao
ponto B, D ou A teriam a mesma velocidade independente do trajeto percorrido.
Figura 1:
Plano Inclinado de Galileu
Fonte: Galileu, 1988, p.167
O filósofo
também analisou planos com alturas iguais e inclinações diferentes e concluiu
que a razão dos tempos empregados pra descer os planos diversamente inclinados é
igual a razão de seus comprimentos (desde que tenham a mesma altura), é
expresso pela Equação 3:
Galileu
também considerou planos com comprimentos iguais e alturas diferentes e
concluiu que os tempos empregados na descida por planos de mesmo comprimento é
igual a proporção inversa das raízes quadradas e suas respectivas alturas (considerando
diferentes inclinações), como mostra a Equação 4:
Galileu
também descreve o experimento supostamente realizado para a elaboração do
teorema:
Numa ripa ou, melhor dito, numa viga de madeira com um comprimento
aproximado de 12 braças, uma largura de meia braça num lado a três dedos do
outro, foi escavada uma canaleta neste lado menos largo com um pouco mais de um
dedo de largura. No interior desta canaleta perfeitamente retilínea, para ficar
bem polida e limpa, foi colada uma folha de pergaminho que era polida para
ficar bem lisa; fazíamos descer por ele uma bola de bronze duríssima
perfeitamente redonda e lisa. Uma vez construído o mencionado aparelho, ele era
colocado numa posição inclinada, elevando-se sobre o horizonte uma de suas
extremidades até a altura de uma ou duas braças, e se deixava descer a bola
pela canaleta, anotando como exporei mais adiante o tempo que empregava para
uma descida completa; repetindo esta experiência muitas vezes para determinar a
quantidade de tempo, na qual nunca se encontrava uma diferença nem mesmo da
décima parte de uma batida de pulso. Feita e estabelecida com precisão tal operação,
fizemos descer a mesma bola apenas a quarta parte do comprimento total da
canaleta; e, medido o tempo de queda, resultava ser rigorosamente igual à
metade do outro. Variando a seguir a experiência e comparando o tempo requerido
para percorrer todo o comprimento com o tempo requerido para percorrer a
metade, ou dois terços ou três quartos, ou qualquer outra fração, por meio de
experiências repetidas mais de cem vezes, sempre se encontrava que os espaços
percorridos estavam entre si com os quadrados dos tempos e isso em todas as
inclinações do plano, ou seja, da canaleta, pela qual se fazia descer a bola.
Observamos também que os tempos de queda para as diferentes inclinações
mantinham exatamente entre si aquela proporção que, como veremos mais adiante,
foi encontrada e demonstrada pelo autor. No que diz respeito à medida do tempo,
empregávamos um grande recipiente cheio de água, suspenso no alto, o qual por
um pequeno orifício feito no fundo deixava cair um fino fio de água, que era
recolhido num pequeno copo durante todo o tempo que a bola descia pela canaleta
ou por suas partes. As quantidades de água assim recolhidas eram a cada vez
pesadas com uma balança muito precisa, sendo as diferenças e proporções entre
os pesos correspondentes às diferenças proporções entre os tempos; e isto com
tal precisão que, como afirmei, estas operações, muitas vezes repetidas, nunca
diferiam de maneira significativa.
Simplício: Teria sido grande a satisfação em presenciar tais
experiências; contudo, estando certo do seu zelo em efetuá-las e de sua
fidelidade em relatá-las, não tenho escrúpulo em aceitá-las como verdadeiras e
certas (GALILEU, 1988, p.174-175).
Modelando o Experimento no software Algodoo
Experimento realizado no Software Algodoo, com o tema: Plano inclinado
Fonte: Experimento virtual construído no Software Algodoo, produzido pela autora.
Com base na
descrição fornecida por Galileu sobre o experimento do plano inclinado, montamos
a seguinte modelagem:
1º Momento:
1ª Etapa: Como ponto de partida é necessário
construir um plano inclinado na forma de um triângulo retângulo de inclinação
arbitrária como mostra a Figura 2:
Figura 2: Construção
do plano inclinado
Fonte: Print screen de experimento virtual
construído no Software Algodoo, produzido pela autora.
2ª Etapa: Sobre o plano inclinado deve-se modelar um
círculo de massa e volume aleatório e selecionar a opção vetorial, para
facilitar a análise componentes vetoriais, força, normal e velocidade, assim
como mostra a Figura 3:
Figura 3: Experimento do plano inclinado com as
componentes vetoriais selecionadas
Fonte: Print screen de experimento virtual
construído no Software Algodoo, produzido pela autora.
O experimento
pode ser repetido com planos inclinados de diferentes comprimentos e alturas.
2º Momento:
1ª Etapa: Para trabalhar a Energia Mecânica e a sua
conservação, é necessário construir uma rampa, para isso, é preciso modelar dois
planos inclinados ligados por um arco, de modo que os dois lados tenham a mesma
inclinação e a mesma altura, como mostra a Figura 4:
Figura 4: Rampa
formada por dois planos inclinados e um arco
Fonte: Print screen de experimento virtual
construído no Software Algodoo, produzido pela autora.
2ª Etapa: Após a construção da rampa, deve-se
colocar sobre o arco uma circulo e tamanho e densidade arbitrários, como mostra
a Figura 5 e acionar a opção de análise vetorial.
Figura
5: Rampa para o estudo da Energia Mecânica
Fonte: Print screen de experimento virtual
construído no Software Algodoo, produzido pela autora.
O experimento
pode ser realizado com a resistência do ar ou no vácuo, conforme o objetivo da
aula.
Sugestões à modelagem do experimento:
Ao analisar o
movimento do corpo sob o plano inclinado, é imprescindível que o professor
incentive os alunos a utilizarem sua criatividade e verificarem suas hipóteses,
variando o ângulo de inclinação, alterando ou calibrando a escolha dos vetores,
o valor da atração gravitacional, o atrito com o ar, alternado as
características físicas do objeto e da superfície do plano inclinado.
Além da força
e da velocidade, o plano inclinado permite a análise e reflexão de outras
partes da física como, por exemplo, a energia mecânica, por isso, no segundo momento
desta simulação foi modelada a seguinte situação.
No segundo
momento do experimento todas as características tanto da rampa quanto do corpo
que será posto em movimento podem ser alteradas também, desta maneira é
possível trabalhar com os alunos a Transformação de Energia (Potencial
Gravitacional em Energia Cinética), variando o atrito com o ar e com a
superfície, é possível calcular a energia dissipada e, desconsiderando qualquer
forma de atrito, é interessante trabalhar a Conservação da Energia Mecânica.
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